Guia Home Office para gestores: efeitos no Brasil e futuro
A pandemia levou muitas empresas e profissionais a experimentar uma rotina até então inimaginável: o home office integral. Praticamente da noite para o dia, milhares de pessoas tiveram de adaptar seus lares para executar as atividades profissionais. Agora, muitos se questionam sobre o futuro do home office. Será que ele veio para ficar?
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De um lado, obviamente, houve muitas vantagens, como fugir do trânsito e ter mais tempo para aproveitar a vida pessoal e a família. Por outro, os desafios também foram inevitáveis e incluem falta de estrutura, internet lenta e barulho da própria casa e dos vizinhos.
Entre prós e contras, uma certeza: todo profissional precisou se reorganizar e se reinventar, a fim de estabelecer uma nova visão acerca do trabalho. Ao que tudo indica, o home office veio, sim, para ficar, mas ele por si só provavelmente não será sustentável.
Neste post, buscamos trazer ideias, dados e conhecimentos valiosos para compreender as principais particularidades do home office e seu futuro, incluindo a cultura da empresa e a produtividade dos funcionários. Aproveite a leitura!
Produtividade no home office
Um estudo da Fundação Dom Cabral em parceria com o Telenses Group, buscou desmistificar os efeitos do home office integral na produtividade no cenário da Covid-19.
Uma pesquisa realizada em junho de 2020, com 1.070 pessoas, apontou que é interessante avaliar as diferenças na produtividade quando se compara o homem com a mulher. “A produtividade das mulheres cai em relação a dos homens quando se tem uma ou duas crianças em casa, o que pode estar associado ao fato das mulheres se dedicarem mais aos cuidados com a família”, diz a pesquisa.
O que pode explicar tal questão é que o ambiente domiciliar tende a desalinhar a rotina dos profissionais em seu dia a dia.
Apesar disso, ainda segundo o estudo, o trabalho em casa mostrou-se fácil de ser adaptado, independentemente se a empresa já estabeleceu ou não a cultura do home office. “Grande parte das empresas já percebeu que o home office é um modelo de trabalho possível e eficiente.
O foco a partir de agora será no impacto na cultura da empresa, no senso de pertencimento dos colaboradores e também na atração e engajamento dos talentos”, aponta Luiz Valente, um dos autores da pesquisa da Fundação Dom Cabral e do Telenses Group.
O nível de cobrança das empresas
A partir desse contexto, surgiu uma questão que comumente preocupa a todos: o nível de cobrança. Tendo em vista que os gestores não estão acompanhando as atividades de perto, alguns profissionais podem sentir que precisam trabalhar mais para mostrar que são produtivos.
Em relação a isso, 29% concorda; 47% discorda; e 24% é neutro.
Um outro ponto do estudo foi “o quanto você acha que suas tarefas do trabalho aumentaram na quarentena?” Nesse caso, “considerando 0 como ʻcontinuo com a mesma quantidade de trabalhoʼ e 100% como ʻo dobro ou mais de tarefasʼ”, o resultado foi de 51%.
No que diz respeito à frequência ideal para trabalhar no regime de home office, 27% respondeu duas vezes por semana; 27% três vezes por semana; 16% sempre que há necessidade; 16% diariamente; 7% quatro vezes por semana; 6% uma vez por semana.
Uma das principais conclusões desta pesquisa é que, sim, o home office é muito mais eficiente do que se imaginava.
No entanto, é preciso ter cautela. Afinal, alguns colaboradores se saem bem no trabalho em casa, mas outros preferem o escritório. “E, no pós-pandemia, é importante encontrar o equilíbrio entre o que o colaborador espera e o que a organização pode oferecer. Em um modelo híbrido a premissa máxima continua com foco na produtividade, mas passa a enxergar cada indivíduo e suas particularidades como prioridade também”, diz o estudo.
Efeitos no Brasil
Em um estudo feito pela Fundação Instituto de Administração (FIA)concluiu-se que o home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia. A pesquisa coletou dados, no mês de abril, de 139 organizações (pequenas, médias e grandes) que atuam no Brasil.
De acordo com a pesquisa, 67% das companhias afirmaram que tiveram dificuldades em implementar o sistema de trabalho em casa de maneira adequada. Um dos obstáculos observados pelo estudo é que 34% das organizações não tinha familiaridade com as ferramentas de comunicação e/ou com o acesso aos ambientes de trabalho virtuais.
A fim de ter uma estruturada adequada para o home office, foram poucas as empresas que ajudaram os colaboradores. Apenas 9% das companhias deram suporte com os gastos de internet e 7% das empresas cobriram os custos com telefone.
Mesmo com as dificuldades apontadas, o estudo ainda relatou que 50% das organizações superaram as expectativas com o trabalho realizado em casa; outras 44% disseram que os resultados ficaram dentro daquilo que já era esperado.
Ao mesmo tempo, 36% das companhias afirmaram que não pretendem manter o trabalho em casa depois que a pandemia acabar. Para 34% das empresas ouvidas, há a intenção de continuar com o trabalho longe do escritório convencional para até 25% do quadro de funcionários.
O futuro do trabalho foi adiantado
Já outra pesquisa, essa conduzida pelo ISE Business School, apontou que mudanças que aconteceriam em 5 ou 10 anos estão acontecendo neste momento. A visão é de que eventos inesperados, como a pandemia, têm a capacidade de “antecipar” o futuro.
O estudo identificou que a flexibilidade foi destacada como uma das competências mais desenvolvidas neste período de isolamento social. Essa habilidade fica atrás apenas da resiliência, que é a capacidade do indivíduo em lidar com situações adversas, que foi relatada por 82% dos pesquisados.
Outras habilidades citadas foram a autodisciplina e a confiança (que são essenciais para todos que trabalham remotamente), além da construção de uma relação mais transparente e assertiva entre os gestores e colaboradores.
Esse bom relacionamento pode não ser fácil de ser alcançado. Para Renato Camargo, líder da empresa de pagamentos Recarga Pay no País, em entrevista ao portal UOL, há algumas dificuldades nesse sentido. “O momento sensível exige uma nova postura dos líderes. É preciso cuidar mais da gestão do comportamento e da saúde mental dos colaboradores, reduzindo as preocupações com metas”, disse.
O estudo da ISE ainda apontou que 60% dos respondentes disseram que tiveram melhorias na produtividade. No entanto, ainda que os dados apontem para um contexto positivo, a especialista em trabalho remoto, Amélia Caetano, lembrou que “as pessoas não estão em sua melhor fase de produtividade, pois a imprevisibilidade da pandemia traz angústia e dificuldade emocional”.
Como será o home office no futuro
No home office experimentado durante a pandemia, muitos profissionais tiveram de se reinventar e fazer malabarismos para cuidar da família e ainda estudar e trabalhar: tudo no mesmo ambiente, o que inevitavelmente pode gerar estresse.
Por outro lado, as pessoas viveram experiências das quais perceberam muitas vantagens. Sendo assim, é possível concluir que será muito difícil voltarmos ao cenário vivido antes da pandemia. Um estudo da revista Harvard Business Review (HBR) lembrou que “o ar nas grandes cidades está mais limpo. As pessoas não precisam perder tempo se deslocando.
As organizações estão dando aos trabalhadores a flexibilidade que eles procuram há muito tempo”. Com isso, surge uma questão: o escritório vai desaparecer e o home office será um novo escritório?
O escritório vai desaparecer?
A publicação da HBR aponta que o escritório não vai desaparecer, mas precisará que tenha uma nova abordagem. “As pessoas ainda precisarão de lugares onde possam se reunir, se conectar, construir relacionamentos e desenvolver suas carreiras”, diz o artigo.
Um ponto sobre a natureza humana foi lembrado pela revista. De acordo com a HBR, o sociólogo Richard Sennett fez diversas pesquisas há 40 anos e descobriu que, “se quisermos manter nossas relações de trabalho e ter o melhor desempenho, precisamos revisitar a escala e a estrutura de nossos escritórios para equilibrar melhor os níveis de conectividade e distância entre nós e nossos colegas”.
A partir desse contexto, vale lembrar que o escritório vai muito além da construção de relacionamentos. Ele também é essencial para as pessoas expressarem seus valores e suas aspirações.
“Embora o trabalho virtual onipresente esteja funcionando — por enquanto —, muitos de nós ainda estamos funcionando a partir de culturas, normas, relacionamentos e práticas que existiam antes da pandemia. Se quisermos mudar ou adaptar algum desses fatores no futuro, será difícil sem algum grau de presença física. Como um CEO corporativo nos disse em um workshop recente: ʻVocê não pode mudar uma cultura com o Zoomʼ, diz a HBR.
O que fazer daqui para frente
Com todas essas ideias acerca do futuro do home office e com o provável e esperado fim da pandemia, é bem possível que o trabalho em casa seja mantido, mas os fatos levam a concluir que ele por si só não é sustentável.
Ao mesmo tempo, aquele escritório que conhecíamos antes também não existirá mais. “É provável que todo o processo de entrada no escritório mude”, disse Elizabeth Brink, principal e líder global do setor de trabalho na empresa de arquitetura e design Gensler, em entrevista ao jornal New York Times.
A rede BBC, de Londres, por sua vez, aponta que “um dia, o vírus irá diminuir. Pode ser erradicado. Mas, mesmo assim, a vida não vai simplesmente voltar a ser como era antes da Covid-19”.
Já a arquiteta britânica Grace Choi diz que, “se as casas pré-Covid eram apenas para relaxar e recarregar, as casas pós-Covid seriam parte lar, parte local de trabalho. Muito mais pessoas vão querer mais espaço nas suas casas para trabalhar, ou pelo menos alguma versatilidade no espaço que têm. Todos vamos ter de configurar o nosso espaço de uma forma mais inteligente”, diz.
No entanto, obviamente, trabalhar em casa não é uma opção para muitas áreas e, sendo assim, os escritórios terão de continuar a existir. Além disso, mesmo as pessoas que podem e se adaptaram ao home office, terão vontade de frequentar os escritórios vez ou outra.
Novos formatos de trabalho
Entre tantas incertezas, uma coisa é certa: o pensamento criativo e as novas tecnologias serão cada vez mais essenciais para este “novo mundo”, pós Covid-19. Nele, novos conceitos surgirão e se tornarão parte do dia a dia das pessoas. Um dos principais que estão emergindo nesse cenário de dúvidas entre home office e escritório é o Anywhere Office.
O Anywhere Office é um modelo de trabalho que permite que as pessoas façam suas tarefas em qualquer lugar, como no home office, no escritório ou no coworking. Obviamente, não há uma resposta pronta para o que se deve fazer daqui para a frente.
Não existe uma receita de bolo ou uma fórmula mágica, mas com experiências, informações e dados dos gestores, dos profissionais e da empresas seguiremos em uma escala de evolução, independentemente do que acontecer daqui para frente.
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Renato Ribeiro é Head de Marketing de Conteúdo no Woba.