“Novo normal”: o que pensam o CEO da Hotmart, o CEO da Kraft Heinz e o CFO do iFood
Webinar realizado pelo Woba reune grandes nomes do mercado para falar sobre as perspectivas do presente e futuro no "novo normal".
Como será o “novo normal” para as empresas? Essa é uma pergunta que muita gente está fazendo em meio à crise do coronavírus. Para respondê-la, reunimos quatro líderes na noite dessa segunda (25/05), dentro da Webinar Week, uma série de lives promovidas pelo Woba, que debate a volta ao escritório e o futuro do trabalho.
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Roberta Vasconcellos, CEO do Woba, mediou o encontro, que também contou com a presença de JP Resende, CEO da Hotmart, de Pedro Navio, CEO Latam da Kraft Heinz, e de Diego Barreto, CFO do iFood. Quer saber o que aconteceu nesse bate papo? Se sim, confira agora as principais ideias discutidas entre os executivos!
O “novo normal” para as empresas
No começo do encontro, Roberta lembrou que a pandemia promoveu o adiantamento do futuro do trabalho em pelo menos em 10 anos. A partir disso, ela quis saber dos convidados como sobre a adaptação à crise e como o propósito das empresas foi alterado.
Para Pedro Navio, sob a ótica da Kraft Heinz, a crise trouxe um aspecto de garantir o alimento na mesa do consumidor, passando por toda cadeia: desde o produtor rural que está em Goiás, plantando milho e tomate, por exemplo, até o prato do consumidor final.
“A gente abraçou esse movimento de não deixar faltar comida, independentemente do momento que estamos vivendo. Essa questão ressoou muito bem dentro da companhia. As pessoas se conectaram e ganharam uma força que poucas vezes eu tinha visto. E estou falando não apenas do Brasil, mas globalmente”, garantiu o executivo.
As pessoas se conectaram e ganharam uma força que poucas vezes eu tinha visto. Pedro Navio, CEO da Latam da Kraft Heinz
JP Resende, por sua vez, lembrou que a Hotmart — uma plataforma de publicação de cursos online —, além de democratizar a tecnologia para a educação, permite que as pessoas vivam suas paixões. “Tem gente, por exemplo, que ama orquídeas, mas nunca trabalhou com isso”, frisou.
Conforme JP explicou, por meio da empresa da qual está à frente, as as pessoas podem criar os mais diversos cursos. Do outro lado, ele disse, há muitos interessados em consumir os conteúdos para, por exemplo, aprender novas habilidades e desenvolver hobbies.
“Nessa pandemia, a gente assumiu um novo ângulo, que é tentar fazer uma ponte para muitas possibilidades, como se qualificar para uma transição de carreira ou melhorar as competências. A Hotmart é uma boa solução para quem quer se qualificar e estabelecer novos horizontes.”, disse.
(…) a gente assumiu um novo ângulo, que é fazer uma ponte para as diversas possibilidades, como se qualificar para melhorar as competências. JP Resende, CEO da Hotmart
Já Diego Barreto destacou que a palavra do momento é empatia. Ele lembrou que o iFood está dentro de uma cadeia que envolve quatro público: os funcionários internos, os restaurantes, os entregadores e os clientes.
Por isso, há uma complexidade para fazer é fazer com que quatro públicos tenham suas necessidades atendidas, como os restaurantes com os espaços fechados e as pessoas receosas sobre a segurança da comida. “Empatia redefiniu o nosso propósito para esse período”, garantiu o executivo.
Empatia redefiniu o nosso propósito para esse período. Diego Barreto, CFO do iFood
Novas formas de trabalho
Sobre as novas formas de trabalho, Roberta perguntou: “estamos falando da Kraft Heinz, que é uma empresa tradicional, e de duas startups que cresceram exponencialmente e são líderes de mercado. Eu queria saber quais foram as principais adaptações para as novas formas de trabalho”.
O CEO Latam da Kraft Heinz, Pedro Navio, apontou alguns desafios. O primeiro foi garantir que a cadeia funcionasse: do produtor rural às pessoas nas fábricas. A empresa, por exemplo, teve que atender todos protocolos de segurança já implementados na China e na Itália.
“Com isso, a Kraft Heinz se tornou uma referência global em relação a manter o negócio funcionando e, ao mesmo tempo, proteger e respeitar aquilo que é mais importante: a saúde dos colaboradores”, disse.
“Depois, chegamos ao escritório. Estamos em uma indústria que não se dava muito o crédito de se operar remotamente, mas tivemos uma grata surpresa. A gente aumentou a qualidade das interações de maneira significativa, com uma série de programas de suporte, como apoio psicológico e financeiro”, lembrou Pedro.
Estamos em uma indústria que não se dava muito o crédito de se operar remotamente, mas tivemos uma grata surpresa. Pedro Navio, CEO Latam da Kraft Heinz
“É essencial entender o que impacta na vida de cada um dentro de casa e isso tem feito muita diferença. A gente está saindo uma empresa transformada, que entendeu que dá, sim, para executar uma série de ações de forma remota, que dá para operar de uma forma mais leve do que operávamos e isso tem sido uma grande aula”, completou.
JP, por sua vez, teve de enfrentar um cenário diferente. Como a Hotmart está num mercado online, a empresa acabou se fortalecendo neste momento. No entanto, a companhia não se livrou de diversas transformações.
“A mudança principal foi interna. A nossa cultura é de muita proximidade, gostamos de estar fisicamente juntos, fazendo reuniões presenciais, pois isso ajuda a sentir a energia. Inicialmente é um choque, mas ao mesmo tempo a gente já tinha a experiência de trabalhar remotamente. Com isso, a empresa se manteve funcional em todos aspectos”, disse JP.
No caso do iFood, Diego Barreto contou que a empresa se antecipou ao home office, o que ajudou na adaptação. Para ele, “a grande decisão foi que nos tornamos uma empresa assíncrona, ou seja, não precisa sincronizar agenda, tempo e espaço, para tomar decisões”, comentou.
O iFood aproveitou a cultura transparente para viabilizar a sincronicidade. Isso era um caminho natural e combina muito com a questão da empatia, conforme lembrou o executivo.
“Ccom o Slack, você continua fazendo tudo com muita velocidade, empoderamento e responsabilidade, sem ter que obrigar as pessoas a entrarem numa reunião, por exemplo, em um momento em que elas não estejam se sentindo bem”, pontuou.
Mudança de mentalidade e cultura organizacional
Sobre a mudança de mentalidade e a cultura organizacional, Roberta lembrou que a confiança tem que vir em primeiro lugar. A partir desse ponto de vista, ela perguntou o que os executivos estão fazendo para manter a cultura forte.
Pedro Navio lembrou que esse é o maior desafio, pois a realidade de cada pessoa é muito diferente. “Temos ouvido mais do que falamos e olha que estamos falando muito. Portanto, temos ouvido mais ainda. Olhamos para o mundo com os pés no chão, com muito respeito as pessoas”, disse.
“Naturalmente, essa crise vai expelir muita gente que eventualmente não estiver conectada com determinada empresa. Por outro lado, vai forjar um time muito conectado para aqueles que de fato acreditam na causa, no propósito e no que a empresa quer construir”, completou.
(… a crise) vai forjar um time muito conectado para aqueles que de fato acreditam na causa, no propósito e no que a empresa quer construir. CEO Latam da Kraft Heinz
JP, por sua vez, lembrou dos três pilares da cultura da Hotmart: Autonomia, Liberdade e Love. “Ser livre, ter autonomia para tomar a decisão do seu trabalho e se importar com as coisas”, comentou.
“Nesse pilar do love, por exemplo, estamos fazendo muitas coisas, desde mandar cadeiras e mesas para as pessoas até enviar máscaras e criar vários programas, como aulas de yoga, palestra com pediatras e sessões de terapia com psicólogos”, disse JP.
No caso do iFood, Diego destacou que foi decidido que a empresa será mais de home office do que física. “Tem toda uma rediscussão em torno do escritório. Antes era apenas físico, mas agora entrou o home office”.
Como será a volta ao escritório
Segundo Pedro, da Kraft Heinz, o único lugar que voltou até agora foi a China — e é diferente do que era antes. “As pessoas com máscaras em distanciamento social e tudo. Não tem volta ao normal enquanto não tiver vacina. A gente vai viver um período alongado bem distante do normal”.
JP, por sua vez, comentou que não tem pressa para tomar uma decisão. “Vamos eventualmente voltar aos espaços. Entendemos o home office mais como ferramenta para aplicar em um determinado momento do que um padrão para se implementado”, disse.
Já Diego lembrou que o home office nunca foi prática utilizada em larga escala no mundo. “Nos EUA, por exemplo, teu um movimento claro para isso. Por lá, tem cadeias de valor indo para esse lado. Esse é um movimento que está acontecendo e muitas barreiras vão deixar de existir”.
O significado do escritório no mundo de hoje
“No mundo de hoje, o que significa escritório para vocês?”, perguntou Roberta. Para responder, Pedro lembrou que o ser humano precisa do contato, de estar próximo, e o escritório acaba tendo essa função de alguma forma e continuará tendo sua importância.
“É um ponto de encontro de talvez não ir todo dia, mas aquele lugar com uma estrutura, com uma agenda, que você vai utilizar de um jeito diferente”, comentou.
JP concordou e lembrou que “o contato ainda faz diferença, nas ideias, nas inovações, no café, no almoço e no bar depois do expediente, por exemplo. Vejo muito valor no escritório ainda. Me parece que muita gente quer trabalhar em casa, mas sem necessariamente ter experimentado isso de forma profunda”, disse.
Vejo muito valor no escritório ainda. JP Resende, CEO do Hotmart
Já Diego comentou que o escritório terá um significado cada vez mais diferente. “Daqui a 10 anos, muita coisa vai mudar, mas na origem ele continua sendo a mesma coisa, ou seja, um lugar que mantém uma raiz única entre as pessoas, que define uma cultura e que emana um símbolo forte”, lembrou.
Como a gestão do trabalho online funciona
Roberta conta que, no Woba, a gestão do trabalho online funciona com mais confiança e menos controle. “É sobre resultados e não horas trabalhadas”, disse a CEO do Woba.
JP, por sua vez, reforçou que tudo está diferente. “Mesmo a casa da gente não está em um nível de normalidade. Não dá para balizar o tanto que a casa está adaptada ao home office. A residência ganha uma função a mais, que antes não tinha, e cada pessoa, dentro das suas individualidades e peculiaridades, terá de ter ter novos aprendizados”, disse.
Rituais pessoais e rotinas do dia a dia
Para finalizar o encontro, Roberta perguntou sobre os rituais pessoais e as rotinas do dia a dia. No caso dela, “meu ritual é Deus, orar e meditar, de manhã e de noite”, disse a CEO do Woba.
JP, por sua vez, não tem exatamente um ritual. “Tem coisas que me fazem bem. À noite, gosto de jogar online e me desligar. De manhã, Eu sempre vou no quarto da minha filha, quando ela acorda, troco a primeira fralda, fico encantado, apaixonado”.
Já Diego lembrou de um livro chamado Mindset. “Esse livro foi marcante para entender que estamos vivendo uma jornada constante. Pessoas que entendem isso se adaptam melhor aos momentos de dificuldade. O meu ritual é a minha vulnerabilidade”, pontuou.
“Todos os dias comento com as pessoas sobre coisas difíceis — não para levar coisas negativas, mas para compartilhar que todos temos desafios. Dividir a vulnerabilidade te tira o peso de tentar ser super homem ou uma mulher maravilha”, completou.
Dividir a vulnerabilidade te tira o peso de tentar ser super homem ou uma mulher maravilha. Diego Barreto, CFO do iFood
Pedro comentou que já foi de tudo na quarentena. “O estado de espírito varia muito. Estou numa fase mais regrada, em que tenha feito exercício, meditação e ficado com minha filha. No dia de estresse uma taça de vinho ajuda”, disse.
“Respeite o seu estado de espírito, é normal não estar bem, é normal achar que o mundo vai acabar e também é normal acordar achando que você vai resolver o mundo inteiro. Aceita e relaxa um pouco porque faz parte”, recomendou.
Estou numa fase mais regrada, em que tenha feito exercício, meditação e ficado com minha filha. Pedro Navio, CEO Laram da Kraft Heinz
Solidariedade e mais união entre as pessoas
No fim da conversa, Pedro lembrou o quanto a solidariedade está aflorando. “Você vê uma série de medidas, de gente tentando ajudar quem está necessitando. A principal consideração é que se essa solidariedade ficar a gente já vai estar num mundo melhor e é isso que espero”.
Para JP, “se a gente puder levar essa união de todos setores daqui para frente vai ser muito bom para manter e construir. Temos mostrado que é possível todo mundo trabalhar de forma mais unida”.
Temos mostrado que é possível todo mundo trabalhar de forma mais unida. JP Resende, CEO da Hotmart
Diego, por sua vez, disse que “estamos nos tornando pessoas melhores. A gente vai adicionar uma carga no nosso DNA de viver melhor em uma situação adversa. Vamos sair muito mais fortes, mais conscientes, do papel do comunidade, sobre como fazer algo melhor”.
Para finalizar, Roberta destacou: “meu avô sempre me falava: podem te tirar tudo, mas o conhecimento ninguém tira de você. Vamos voltar para o essencial e nos desenvolver como pessoas e sociedade”.
Vamos voltar para o essencial e nos desenvolver como pessoas e sociedade. Roberta Vasconcellos, CEO do Woba
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